Como a vida cultural, a vida em sociedades humanas é naturalmente em rede e por isso é social, quando pensamos Vamos criar uma rede! na verdade, pensamos em utilizar o padrão rede no processo organizacional em que estamos envolvidos. A estratégia rede, na maioria das vezes, consiste em ativar e orientar as ligações geradas pelas interações entre os atores do sistema social em questão, imprimindo-lhes um conteúdo e um objetivo comum.
Assim, a noção de trabalhar em rede induz à noção de projeto comum, em torno do qual se agrupam atores sociais que trabalham juntos para formar um sistema, um dispositivo inteligente, desenhado por um padrão com determinadas características: é aberto, a adesão é livre, é horizontal (as interações entre as pessoas são mais distribuídas do que descentralizadas ou centralizadas), é instável, é dinâmico.
O padrão é imaterial, é um conjunto de princípios que ordena os fluxos entre os elementos de um determinado sistema. Ele se corporifica na estrutura, que é gerada pelos fluxos que acontecem no sistema. Dessa forma, é esclarecedor o enunciado de Cássio Martinho: Redes são uma forma de organização que implica um conteúdo de natureza emancipatória e não outro. Redes são a tradução, na forma de desenho organizacional, de uma política de emancipação. Não pode haver distinção entre os fins dessa política e os meios para empreendê-la .
É fundamental perceber a conexão entre a forma de organizar as pessoas e os fenômenos sociais e políticos que derivam dela. Sem isso não conseguiremos entender os fenômenos organizacionais.Toda organização é um processo intergerativo entre os fluxos, os princípios organizacionais e a estrutura, que se materializa em normas que regem o comportamento e o acesso às informações, um imaginário comum, processo de decisão e tecnologias adotadas.
Há uma grande confusão entre a redes sociais e mídias sociais. A sociedade humana é uma rede porque é social, é social porque é em rede. Já era rede antes da existência da Internet e da Web social, com suas plataformas de compartilhamento e cooperação. Uma das acepções do vocábulo “social” diz respeito ao que nasce na interação, logo todo o fenômeno que deriva da interação entre entes de um conjunto, sistema, ambiente é um fenômeno social. Norbert Elias explica que “sociedade” é uma rede de interdependências de funções:
...Todas essas funções interdependentes, as de diretor de fábrica ou mecânico, dona-de-casa, amigo ou pai, são funções que uma pessoas exerce para as outras, um indivíduo para outros indivíduos. Mas cada uma dessas funções está relacionada com terceiros; depende de funções deles tanto quanto estes dependem dela. Em virtude dessa inerradicável interdependência das funções individuais, os atos de muitos indivíduos distintos, especialmente numa sociedade tão complexa quanto a nossa, precisam vincular-se interruptamente, formando longas cadeias de atos, para que as ações de cada indivíduo cumpram suas finalidades. Assim, cada pessoa singular está realmente presa; está presa por viver em permanente dependência funcional de outras; ela é um elo nas cadeias que ligam outras pessoas, assim como todas as demais, direta ou indiretamente, são elos nas cadeias que a prendem. Essas cadeias não são visíveis e tangíveis, como grilhões de ferros. São mais elásticas, mais variáveis, mais mutáveis, porém não menos reais, e decerto menos fortes. E é essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação às outras , a ela e nada mais, que chamamos “sociedade”.
O que é novo, a grande contribuição da tecnologia digital e em especial da Internet, é que essas redes se materializaram nas telas de computadores e smartphones e pudemos, enfim, ver as conexões e pressentir a importância delas.
Assim, seja em encontros presenciais ou na Web, em conversas recorrentes, retroativas , síncronas e assíncronas, a rede produz a rede que é uma rede de conversações. A rede de conversações produz capital social que por sua vez produz mais redes. Melhor seria dizer: a rede é capital social.
Na atualidade, a rede de conversações é suportada por uma rede física de computadores conectados produzindo assim uma estrutura física e articulada de comunicação distribuída e um ambiente virtual de convivência para seus integrantes.
A rede de conversações para ser gerada e se desenvolver necessita de interações sociais que estão baseadas em afinidades, acolhimento, confiança, pertença e cooperação.
A sustentabilidade da rede (sua re-produção, re-novação e resiliência) depende do acontecimento de interações sociais (comunicação, afiliação e pertença), e da qualidade e teor dessas interações (cooperação, pertinência, aprendizagem).
Na interação social, provocada na realização das tarefas conjuntas e mesmo na comunicação rotineira das redes, vamos assumindo e atribuindo uns aos outros papeis que expressam a dinâmica relacional. Na maioria das vezes a atribuição e assunção de papeis são processos inconscientes. São funcionais aqueles papeis que contribuem para a produtividade do trabalho conjunto e para a aprendizagem. São disfuncionais aqueles que criam obstáculos na comunicação, distraem das tarefas e criam distanciamento entre os integrantes.
Observando esse critério de funcionalidade, podemos destacar como dinâmicas funcionais nas redes sociais com comunicação mediada pela internet:
– conexão dos integrantes ponto a ponto,
– descentramento das iniciativas,
– circulação de lideranças,
– surgimento de líderes de tarefas (temporários),
– fluxo livre da comunicação entre os integrantes,
– comunicação multidirecional,
– re-edição autônoma da informação,
– autoria
– audiências ativas,
– o fenômeno da emergência,
– instabilidade da estrutura,
– surgimento de comunidades de prática e de aprendizagem ou clusters por afinidades, projetos, tarefas.
O desafio é que a administração da plataforma digital utilizada não se constitua como uma oportunidade de controle da interação e da comunicação.